No mesmo site, há várias cenas com beijos heterossexuais e com classificação livre
Depois da recusa da Rede Globo de mostrar um beijo gay no horário nobre, foi a vez do Youtube seguir a tendência e classificar como "impróprio" um vídeo que mostrava um beijo entre dois homens. Indignado com a decisão, o roteirista e diretor Rafael Puetter disse que pretende processar o Google pelo incidente, caso a empresa não revise a classificação. No mesmo site de vídeos, há vários beijos heterossexuais - a maioria esmagadora com classificação livre. "O vídeo era um protesto contra a censura do beijo gay na Rede Globo. É revoltante um protesto contra a censura ser censurado. Você se sente completamente impotente. Não consegui mais fazer nada o dia inteiro de tanta raiva", reclama Puetter, responsável pela publicação do vídeo, que já teve mais de 69 mil visualizações. "O pior é que o protesto perde boa parte do alcance graças à censura, já que o usuário é obrigado a ter conta no Google e ser maior de 18 anos para visualizá-lo. Meus pais não conseguiram vê-lo, por exemplo". Segundo as regras do Youtube, os vídeos marcados como impróprios e disponíveis apenas para maiores de idade cadastrados no site têm conteúdo com sexo e nudez, apologia ao ódio, chocante, repugnante, atos perigosos ou ilegais. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Google, empresa responsável pelo site de vídeos, explicou que o conteúdo teve seu acesso limitado por causa de denúncias de outros usuários.
"O Google não repudia a atitude de quem colocou o vídeo no ar de qualquer forma e somos contra qualquer tipo de preconceito, mas sabemos que se trata de um tema polêmico, como o próprio usuário fez questão de ressaltar", explicou a assessoria de imprensa da empresa. "Caso o usuário requisite, podemos rever a classificação. Não somos homofóbicos, apenas acreditamos que se trata de um tema sensível".
A postura do site revoltou até mesmo os próprios usuários do site, que mandaram mensagens de apoio a Puetter através do seu canal.
"Num país onde atos de homofobia são comuns, as pessoas são mais tolerantes com uma cena de violência do que uma cena que mostre afeto. Lamentável", diz um deles. Em outro, o usuário reclama da maneira como os gays são retratados na mídia. "O que passam é que o gay nunca é discreto, sempre espalhafatoso, sempre apoiada nos estereótipos. E qualquer demonstração de carinho é tratada como indecente".
Para Rafael Puetter, o mais revoltante é que a censura do Google aconteceu na internet, meio de comunicação considerado mais livre. Em resposta à censura, o diretor colocou outro vídeo no ar, chamando o Youtube de "Homofotube". Puetter defende que o receio de mostrar cenas com homossexuais na TV dificulta a aceitação deles na sociedade.
"Às vezes criticam os gays pelo nosso desejo de que um beijo homossexual seja exibido na TV, mas todos sabemos que a novela é um ponto muito importante da cultura brasileira", diz o diretor, que só vai processar o Google se a empresa mantiver no Youtube a explicação de que foi ele mesmo quem censurou o vídeo. "A partir do momento que o gay é tratado como inexistente na novela, ele é tratado como inexistente na sociedade. Toda essa polêmica acontece porque as pessoas não estão acostumadas a ver um beijo gay".
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